sexta-feira, 10 de outubro de 2008

BEATLES: O Poder Permanente de Encanto

Os reis do iê iê iê
Vamos viajar pela história dos Beatles, um grupo que, com seus sons e timbres diferentes, modificou a música e o comportamento de gerações inteiras, tornando-se uma das mais importantes manifestações culturais dos anos da Guerra Fria.
Tudo começou em 1962, quando um grupo de rapazes de Liverpool, uma pequena cidade da Inglaterra, revolucionou a música e o comportamento das pessoas. Esses rapazes eram John Lennon, Paul McCartney, Ring Starr e George Harrison. O nome Beatles veio da junção de beat (batida) com beetle (besouro).
Eles gravaram o seu primeiro disco, Please, please me, em 1963, e a partir daí começou o fascínio que se mantém até hoje. Please, please me chegou ao primeiro lugar na parada de sucessos da Inglaterra daquele ano e a banda participou de vários programas de televisão.

Revolver
A partir de 1965, com o disco Rubber Soul, os Beatles passaram a fazer experimentações sonoras, com a introdução de instrumentos antigos (como o cravo) e a cítara (de origem indiana).
O mundo vivia o tempo de pacifismo do Flower Power, dos hippies, das músicas de protesto, do ideal de paz e amor e da influência cultural da Índia.
Nesse contexto, os Beatles lançaram, em 1966, Revolver, uma obra-prima musical porque alcançou um nível de criatividade musical jamais experimentado, fazendo uso de instrumentos diferentes como orquestras e metais, guitarras e vocais distorcidos, montagens e efeitos de estúdio.
As letras das músicas de Revolver faziam críticas sociais, falavam da cobrança de impostos, mas também de relações afetivas. Enfim, os mais diversos assuntos tornavam-se grandiosos exercícios de imaginação.

O toque da mídia
Com a popularização de tecnologias de grande impacto e alcance, como o rádio, os discos de acetato (um dos primeiros sistemas de gravação magnética) e a televisão, o poder da comunicação tornou-se fundamental durante o século XX. Os Beatles souberam como ninguém se aproveitar desse poder para produzir e reproduzir suas músicas.
Seus gestos, o corte de cabelo, suas roupas, seu modo de falar, tudo o que vinha deles tinha um alcance que abrangeu quase todo o planeta, num fenômeno chamado beatlemania.

Os Beatles e a luta pelos direitos civis
“Nos shows nos Estados Unidos eles fizeram uma exigência histórica: a de que não tocariam em teatros ou ginásios com segreção racial na platéia – uma constante em vários Estados norte-americanos da época. Tal atitude foi um marco para os movimentos pelos direitos humanos e, ao mesmo tempo, atraiu a ira de diversos setores da direita norte-americana.”

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
Algumas respostas à propaganda anticomunista da Guerra Fria foram as manifestações contra o racismo, pelo fim da guerra do Vietnã e o movimento pacifista conhecido por Flower Power.
O disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Clob Band foi lançado em 1967 e tornou-se uma espécie de caleidoscópio documental da época, fazendo referências à Índia, aos hippies e criticando a sociedade estabelecida. Não se conhecia até então músicas tão elaboradas, que se interligavam formando um tema único, como na música erudita ou na ópera.
Além disso, a produção multicolorida da capa com os ícones da cultura pop – Marilyn Monroe, Marlon Brando, James Dean, Charles Chaplin e tantos outros – fez dele um clássico e um marco da historia da música.

O sonho acabou
Os sonhos da era hippie foram desfeitos no final dos anos 1960 quando os estudantes abandonaram o slogan “a imaginação no poder” e quando John Lennon afirmou, ao dissolver os Beatles em 1970: “o sonho acabou”.
Sobre o motivo da separação dos Beatles há muitas controvérsias: divergências pessoas, a influência da artista plástica japonesa, Yoko Ono, sobre John Lennon, enfim, podem ter sido inúmeros os motivos. Não importa. O importante é que depois dos Beatles o mundo nunca mais foi o mesmo.
Após 1968, John Lennon se mudou para os Estados unidos teve uma atitude política mais radical, fazendo com que o FBI acumulasse uma grande ficha a seu respeito. Ele participou de jornais da esquerda nova-iorquina e fez contato com líderes de grupos políticos radicais de oposição ao presidente norte-americano Richard Nixon.

Abbey Road
Em 1969, os Beatles lançaram, na Inglaterra, Abbey Road. Nesse disco, eles mostraram que musicalmente estavam unidos, mas não espiritualmente. Havia uma indisposição geral entre eles.
Mesmo assim, a aproximação do Ocidente com o Oriente de Abbey Road foi a grande novidade, derrubando barreiras e preconceitos e provando que os Beatles mantinham o talento e a inspiração que sempre os definiram.

Faça amor, não faça guerra
John Lennon e Yoko Ono fizeram várias manifestações contra a guerra, que ficaram conhecidas pelo slogan “Dê uma chance à paz”.
Em 1969, John Lennon devolveu à rainha sua medalha de membro da Ordem de Império Britânico em protesto contra o apoio inglês aos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
Em 1980, John Lennon foi assassinado por um fã com problemas mentais.

Um só mundo
Revolution (Lennon/McCartney), 1969
“Você diz que quer uma revolução
Bem, você sabe, todos nós queremos mudar o mundo
[...] Todos nós fazemos o que podemos
Mas se você quer o dinheiro para pessoas que só têm ódio na mente
Tudo o que posso dizer, irmão, você vai ter que esperar
[...] Você diz que mudará a constituição
Bem, você sabe...
Todos nós queremos mudar a sua cabeça
Você me diz que isso é a instituição
Bem, você sabe...
É melhor você libertar sua mente
Mas se você vai andar com fotos do camarada Mao
Também não vai convencer ninguém
Não sabe que vai acabar tudo bem?
Tudo bem, tudo bem
...”

Imagine (John Lennon), 1971
“Imagine que não há países,
não é difícil,
nada por que matar ou morrer,
e, também, nenhuma religião.
Imagine todas as pessoas
vivendo a vida em paz.
Imagine que não há posses
me pergunto se você é capaz,
nenhum lugar para a fome ou a ambição,
uma comunidade de homens.
Imagine todas as pessoas
compartilhando todo o mundo.
Talvez você diga
que eu sou um sonhador
mas eu não sou o único
Espero que um dia você se una a nós
e o mundo seja como um só.”


Ilusões perdidas
A partir de Sgt. Pepper’s, os Beatles modificaram sua postura diante do mundo. Tornaram-se mais críticos e desfizeram a imagem de bons rapazes que a mídia insistia em mostrar. Hoje, através da tecnologia, é possível transformar um desconhecido num objeto de culto da mídia e do público. Não há mais revoluções possíveis no mundo da comunicação de massa.

O fim da inocência pop
“ Os Beatles eram ‘mais famosos que Jesus Cristo’, segundo uma declaração tão impertinente quanto precisa de John Lennon. Ou seja, o que os Beatles faziam e falavam tinha a força de um evangelho. Sgt. Pepper’s foi até aquele momento um dos discos mais famosos da história da música pop. O quinto Beatle, o produtor George Martin, escreveu um livro inteiro (Paz, amor e Sgt. Pepper’s, Editora Relume-Dumará) sobre a gravação do disco que consumiu 129 dias. O que talvez estivesse por trás de tanta inquietude, experimentação era uma pergunta crucial nos anos 1960 percebida pelo jornalista da Time, que escreveu quatro páginas sobre o disco (capa da revista em 22/09/67). O redator, a propósito da frase de Lennon sobre Jesus, atribui-lhe o seguinte sentido: ‘Ele (Lennon) está colocando a questão: que tipo de mundo é esse que faz mais barulho em torno de um culto pop do que em torno da religião?’. Pode-se substituir, com tranqüilidade, religião por ‘política’, ‘ideologia’, ‘moral’. Ou ainda, abreviar para ‘que tipo de mundo é esse?’.
Guiado pelos Beatles, o jornalista da Time tinha percebido que o mundo não era mais o mesmo. O que ainda lhe escapava naquele momento é que o mundo também não seria o exatamente aquele desejado pelos jovens que sorviam as palavras dos Beatles, acreditando que bastaria ‘a little help my friends’.
A revolução que estava no ar e que os Beatles irradiaram em 1967 malogrou. Entretanto, o mundo mudou de fato. Absorveu, devidamente domadas, algumas das reivindicações daquele período, com uma certa liberação sexual [...] e uma certa liberalização de costumes.
Só que, num movimento perverso, transformou alguns dos canais por meio dos quais os jovens exigiam as mudanças nos anos 1960 em veículos privilegiados para uma conformidade massiva às regras do jogo. Com Sgt. Pepper’s estabeleceram-se os signos, os procedimentos e os mitos do pop.
Talvez seja algo exagerado mas nem por isso incorreto afirmar que antes dos Beatles havia popularidade. Depois, culto pop –ou seja, esse passe de marketing que transforma uma banda, um músico, um ator e hoje em dia até um nerd de computador em autoridade suprema sobre qualquer assunto, criando em torno dele todo um universo de moda, comportamento, produtos e até de idéias.
Essa aparentemente pequena, mas decisiva, transformação viraria de pernas para o ar a face, o formato e o alcance dos fenômenos da indústria cultural pelos próximos trinta anos. Ainda assim, ouvir Sgt. Pepper’s em 1997 é um antídoto contra a caretice e o conformismo, que andam se alastrando como praga. Ainda que remeta à perda irreparável da inocência da música pop contém um senso de absurdo, uma vivacidade estilística e uma coragem de experimentar que todas as bandas dos anos 1990 deveriam invejar.”


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O por que de um post sobre os Beatles!? Não, eu não sou fã deles, sou fã sim da HISTÓRIA deles e da importância deles para o mundo da música de ontém, de hoje e do amanhã. :)
beijusmeliga,eeuseiqueninguémleu:*